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Tempo

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Quando um tema a ser tratado carrega consigo algum grau de gravidade, alguma matiz de polêmica vinda das diversas opiniões que suscita, ele é comumente qualificado como espinhoso, dentre tantas outras qualificações de conotações idênticas ou análogas. A reflexão, a digressão, o debate e a manifestação, aliás, quando exercitados são inclusive, mais que constantemente, invariavelmente, tidos por necessários de enfrentamento.

Eu insisto: falar sobre algo não é o que há de mais feio, reprovável.

Há que se repudiar, rechaçar, obstar, evitar, julgar e, quem sabe, sancionar o ato, o fato e suas consequências.

Prefaciado por estas ressalvas venho, então, conforme o sentido ordinário que lhes relembrei ali em cima, no princípio, enfrentar o espinhoso tema do drama vívido e ardente da tragédia ocorrida na boate Kiss em data, circunstâncias, efeitos, dimensões, dores e sofrimentos por todos sabidos, por todos sofridos (uns bem e muito mais que outros, natural, compreensível e logicamente).

E venho fazê-lo sobre a perspectiva do tempo, já que fixada a data para a realização do julgamento popular para o dezembro vindouro.

Sim, demorou e continua demorando demais para os tantos muitos que tiveram suas vidas rasgadas pela sobrevivência ao que presenciaram, como para aqueles que convivem todos os dias com a inimaginável e imensurável dor da saudade.

Sim, cada um dos dias a mais é pedra lançada a atingir fratura exposta e impassível de fechamento e cicatrização enquanto ele, o tempo, não decreta o próprio termo de encerramento com a emergência da esperada justiça.

Mas, infelizmente, não poderia ser diferente.

Esta Justiça pela qual se espera, pela qual todos ansiamos, a terrena, sempre teve e sempre terá uma relação com a ampulheta infinitamente diferente das impressões dos nossos corações.

São muitas gentes, muitas dores, vidas, liberdades, nomes e sobrenomes, amores, sentimentos nominados e inominados, procedimentos técnicos jurídicos e científicos outros que se permearam desde aquela noite desgraçada, no maior inquérito da história da Polícia gaúcha.

Por óbvio, se materializou em milhares de páginas encadernadas nos autos do processo judicial sobre o qual, dos advogados, promotores, juízes, desembargadores, peritos, servidores até tantos outros profissionais correram olhos e atenções enlutadas, mas proficientes. Não havia como ser diferente.

Ele, o tempo, o mesmo que corrói, é ironicamente mais um fator a assegurar que a todos os detalhes se atentou, que nada foi açodado, nada foi tolhido ou apressado, tampouco esquecido, aqui, na primeira e mais sensível das instâncias judiciais.

Eu queria muito que fosse diferente. Que o tempo e a justiça tivessem o mesmo ritmo das batidas coronárias, principalmente daqueles que mais padecem em sofrimento. Mas não é..

Ele, o tempo, é quem sabe de sua velocidade e transcorre conforme as suas razões de quem, sabemos, ele é o Senhor.

Não observá-lo poderia, como pode, nos fazer ter de aturá-lo ainda mais em razão, por exemplo, de eventuais nulidades processuais detectadas lá na última instância a trazer todo o processo à primeira, para a tudo ou muito ter de ser refeito. E esta pedra, sim, de tantas, seria a mais pesada, ferina e dolorosa. Não sei se suportável...

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